O que é Argumento?
Conforme vimos
no conto de Conan Doyle, Sherlock Holmes justifica sua suspeita de que o chapéu
é de um intelectual, apresentando a seguinte prova para seu companheiro Watson:
“É uma questão de capacidade cúbica. Um homem de cabeça grande deve ter alguma
coisa dentro dela”. Com esta atitude, a hipótese do nosso detetive não está
mais sem apoio. A partir de agora, ela passa a ser a conclusão de um argumento.
É um consenso
entre os lógicos afirmar que um argumento
é qualquer grupo de proposições tal que se afirme ser uma delas derivada das
outras, as quais são consideradas como provas evidentes da verdade da primeira.
Na descrição desta estrutura são usualmente empregados os termos “premissa” e “conclusão”.
A conclusão de um argumento é aquela
proposição que se afirma com base nas outras proposições desse mesmo argumento,
e, por sua vez, essas outras proposições que são enunciadas como prova ou
razões para aceitar a conclusão são as premissas
desse argumento (Copi, 1962, p. 23). No argumento acima, por exemplo, Holmes
conclui que “o chapéu é de um intelectual” com base na premissa de que “um
homem de cabeça grande deve ter algo dentro dela”. Embora soe algo enigmático
este argumento, podemos reconstruí-lo, tornando mais evidente o que Holmes quis
dizer.
1.
Há um chapéu grande.
2.
Alguém é o proprietário deste chapéu.
3.
Proprietários de grandes chapéus têm grandes cabeças.
4.
Pessoas de grandes cabeças têm cérebros grandes.
5.
Pessoas de cérebros grandes são intelectuais.
6.
Logo, o proprietário deste chapéu é um intelectual.
Aqui, podemos perceber claramente
que a conclusão (6) é derivada das premissas (1), (2), (3), (4) e (5).
Neste
argumento, é interessante notarmos que as premissas são enunciadas primeiro e a
conclusão no fim. Todavia, nem todos os argumentos são dispostos desta maneira.
Há casos em que a conclusão é enunciada primeiro e as premissas no fim. Por
exemplo, o argumento de Aristóteles: “Em uma democracia, o pobre tem mais poder
do que o rico, porque há mais dos primeiros, e a vontade da maioria é suprema”.
Sua conclusão, “Em uma democracia, o pobre tem mais poder”, é anunciada antes
das premissas, “porque há mais dos primeiros, e a vontade da maioria é
suprema”.
Este fato deve
nos servir de alerta. Saber identificar corretamente as premissas e a conclusão
de um dado argumento é uma tarefa fundamental em Lógica, sendo, portanto, o seu
erro comprometedor para análises posteriores. A fim de minimizar estes erros,
disponibilizaremos uma tabela de indicadores de premissas e conclusão. Todavia,
é claro que nem sempre as premissas e a conclusão são precedidas por
indicadores, o que significa que esta tabela não deve ser usada acriticamente.
Indicadores de premissa
|
Indicadores de conclusão
|
pois
porque dado que como foi dito visto que devido a a razão é que admitindo que sabendo-se que assumindo que |
por isso
por conseguinte implica que logo portanto então daí que segue-se que pode-se inferir que consequentemente |
Proposição
Até o momento temos
falado de argumentos, conclusões e premissas sem levar em conta um aspecto
fundamental, a saber, o fato de que as premissas e conclusão de um argumento
são proposições. Afinal de contas, o que é uma proposição?
Diante do que
foi exposto até agora, é natural pensarmos que proposições não passam de
frases, orações. Todavia, não devemos confundir proposições com frases, o que
será mostrado logo abaixo.
As proposições
são verdadeiras ou falsas e nisto diferem de algumas orações como perguntas, ordens
e exclamações. Só as proposições podem ser afirmadas; uma pergunta pode ser
respondida, uma ordem dada, uma exclamação proferida, mas nenhuma delas pode
ser afirmada ou negada, nem é possível julgá-las como verdadeiras ou falsas.
De posse dessa
distinção inicial, poderíamos pensar que as proposições seriam as orações
declarativas, como “Brasília é a capital do Brasil”, uma vez que estas afirmam
ou negam algo de algo. Contudo, esta identificação também é falsa. Uma oração
declarativa é uma entidade lingüística, ao passo que uma proposição é o
significado expresso por uma frase declarativa. Por exemplo:
João ama Inês.
Inês é amada
por João.
São duas
sentenças diferentes, pois a primeira contém três palavras, ao passo que a
segunda contém cinco (...). Contudo, as duas sentenças têm exatamente o mesmo
significado. Costuma-se usar a palavra proposição para designar o significado
de uma sentença ou oração declarativa (Copi, 1962, p. 22).
Referências Bibliográficas:
COPI, Irving.
Introdução. In: Introdução à Lógica.
Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Editora MESTRE JOU, 1968, p. 19-43.
PADRÃO, António Aníbal.
Algumas noções de lógica. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://criticanarede.com/log_nocoes.html.
Arquivo capturado em 01 de dezembro de 2007.
SALMOM, Wesley
C. O Objeto da Lógica. In: Lógica. Trad. Leonidas Hedenberg
e Octanni Silveira da Mota. Rio
de Janeiro: ZAHAR EDITORES, 1981, p. 13-34.