quarta-feira, 1 de junho de 2016

O que é Argumento?

O que é Argumento?

Conforme vimos no conto de Conan Doyle, Sherlock Holmes justifica sua suspeita de que o chapéu é de um intelectual, apresentando a seguinte prova para seu companheiro Watson: “É uma questão de capacidade cúbica. Um homem de cabeça grande deve ter alguma coisa dentro dela”. Com esta atitude, a hipótese do nosso detetive não está mais sem apoio. A partir de agora, ela passa a ser a conclusão de um argumento.
É um consenso entre os lógicos afirmar que um argumento é qualquer grupo de proposições tal que se afirme ser uma delas derivada das outras, as quais são consideradas como provas evidentes da verdade da primeira. Na descrição desta estrutura são usualmente empregados os termos “premissa” e “conclusão”. A conclusão de um argumento é aquela proposição que se afirma com base nas outras proposições desse mesmo argumento, e, por sua vez, essas outras proposições que são enunciadas como prova ou razões para aceitar a conclusão são as premissas desse argumento (Copi, 1962, p. 23). No argumento acima, por exemplo, Holmes conclui que “o chapéu é de um intelectual” com base na premissa de que “um homem de cabeça grande deve ter algo dentro dela”. Embora soe algo enigmático este argumento, podemos reconstruí-lo, tornando mais evidente o que Holmes quis dizer.

1.      Há um chapéu grande.
2.      Alguém é o proprietário deste chapéu.
3.      Proprietários de grandes chapéus têm grandes cabeças.
4.      Pessoas de grandes cabeças têm cérebros grandes.
5.      Pessoas de cérebros grandes são intelectuais.
6.      Logo, o proprietário deste chapéu é um intelectual.

Aqui, podemos perceber claramente que a conclusão (6) é derivada das premissas (1), (2), (3), (4) e (5).
Neste argumento, é interessante notarmos que as premissas são enunciadas primeiro e a conclusão no fim. Todavia, nem todos os argumentos são dispostos desta maneira. Há casos em que a conclusão é enunciada primeiro e as premissas no fim. Por exemplo, o argumento de Aristóteles: “Em uma democracia, o pobre tem mais poder do que o rico, porque há mais dos primeiros, e a vontade da maioria é suprema”. Sua conclusão, “Em uma democracia, o pobre tem mais poder”, é anunciada antes das premissas, “porque há mais dos primeiros, e a vontade da maioria é suprema”.
Este fato deve nos servir de alerta. Saber identificar corretamente as premissas e a conclusão de um dado argumento é uma tarefa fundamental em Lógica, sendo, portanto, o seu erro comprometedor para análises posteriores. A fim de minimizar estes erros, disponibilizaremos uma tabela de indicadores de premissas e conclusão. Todavia, é claro que nem sempre as premissas e a conclusão são precedidas por indicadores, o que significa que esta tabela não deve ser usada acriticamente.           
Indicadores de premissa
Indicadores de conclusão
pois
porque
dado que
como foi dito
visto que
devido a
a razão é que
admitindo que
sabendo-se que
assumindo que
por isso
por conseguinte
implica que
logo
portanto
então
daí que
segue-se que
pode-se inferir que
consequentemente
Proposição

Até o momento temos falado de argumentos, conclusões e premissas sem levar em conta um aspecto fundamental, a saber, o fato de que as premissas e conclusão de um argumento são proposições. Afinal de contas, o que é uma proposição?
Diante do que foi exposto até agora, é natural pensarmos que proposições não passam de frases, orações. Todavia, não devemos confundir proposições com frases, o que será mostrado logo abaixo.
As proposições são verdadeiras ou falsas e nisto diferem de algumas orações como perguntas, ordens e exclamações. Só as proposições podem ser afirmadas; uma pergunta pode ser respondida, uma ordem dada, uma exclamação proferida, mas nenhuma delas pode ser afirmada ou negada, nem é possível julgá-las como verdadeiras ou falsas.
De posse dessa distinção inicial, poderíamos pensar que as proposições seriam as orações declarativas, como “Brasília é a capital do Brasil”, uma vez que estas afirmam ou negam algo de algo. Contudo, esta identificação também é falsa. Uma oração declarativa é uma entidade lingüística, ao passo que uma proposição é o significado expresso por uma frase declarativa. Por exemplo:

João ama Inês.
Inês é amada por João.

São duas sentenças diferentes, pois a primeira contém três palavras, ao passo que a segunda contém cinco (...). Contudo, as duas sentenças têm exatamente o mesmo significado. Costuma-se usar a palavra proposição para designar o significado de uma sentença ou oração declarativa (Copi, 1962, p. 22).
        
Referências Bibliográficas:

COPI, Irving. Introdução. In: Introdução à Lógica. Trad. Álvaro Cabral. São Paulo: Editora MESTRE JOU, 1968, p. 19-43.
PADRÃO, António Aníbal. Algumas noções de lógica. [online] Disponível na internet via WWW. URL: http://criticanarede.com/log_nocoes.html. Arquivo capturado em 01 de dezembro de 2007.
SALMOM, Wesley C. O Objeto da Lógica. In: Lógica. Trad. Leonidas Hedenberg e Octanni Silveira da Mota. Rio de Janeiro: ZAHAR EDITORES, 1981, p. 13-34.