Lógica: 1ª LISTA DE EXERCÍCIOS COM RESPOSTAS
Questões introdutórias
I.
Identificar o antecedente
(premissas) e o conseqüente (conclusão) dos seguintes argumentos, eliminando os
ruídos e explicitando quaisquer premissas suprimidas:
1. As
ostras não são fósseis, pois nenhum fóssil pode ter relações sexuais e uma
ostra pode ter relações sexuais.
i.
Premissa 1: Nenhum fóssil pode ter relações
sexuais.
ii.
Premissa 2: Uma ostra pode ter relações sexuais.
iii.
Conclusão: Logo, as ostras não são fósseis.
2. O
pavilhão de Portugal na Expo'98 foi desenhado por Siza Vieira. Por isso é
bonito, já que tudo o que é desenhado por Siza Vieira é bonito.
i.
Premissa 1: Tudo o que é desenhado por Siza Vieira
é bonito.
ii.
Premissa 2: O pavilhão de Portugal na Expo'98 foi
desenhado por Siza Vieira.
iii.
Conclusão: Logo, o pavilhão de Portugal na Expo'98
foi desenhado por Siza Vieira é bonito.
3. Sartre
era nacionalista, pois pertenceu à resistência e as pessoas que pertenceram à
resistência eram nacionalistas.
i.
Premissa 1: As pessoas que pertenceram à
resistência eram nacionalistas.
ii.
Premissa 2: Sartre pertenceu à resistência.
iii.
Conclusão: Logo, Sartre era nacionalista.
4. Aguiar
foi multado porque foi apanhado sem os documentos do carro.
i.
Premissa 1 (oculta): As pessoas que são apanhadas
sem os documentos do carro são multadas.
ii.
Premissa 2: Aguiar foi apanhado sem os documentos
do carro.
iii.
Conclusão: Logo, Aguiar foi multado.
5. Pavarotti
é italiano, portanto é latino.
i.
Premissa 1 (oculta): Todo italiano é latino.
ii.
Premissa 2: Pavarotti é italiano.
iii.
Conclusão: Logo, Pavarotti é latino.
6. Não
podes ser um bom filósofo se não sabes argumentar. Ora, tu sabes argumentar,
portanto podes ser um bom filósofo.
i.
Premissa 1: Não podes ser um bom filósofo se não
sabes argumentar.
ii.
Premissa 2: Tu sabes argumentar.
iii.
Conclusão: Logo, tu podes ser um bom filósofo.
7. A
legalização do aborto diminui a criminalidade pois filhos não desejados tendem
a ser criados com negligência e crescem com maior probabilidade de vir a
praticar crimes. (Revista Veja, janeiro/2004, p. 88).
i.
Premissa 1: Filhos criados com negligência crescem
com maior probabilidade de vir a praticar crimes.
ii.
Premissa 2: Filhos não desejados tendem a ser
criados com negligência.
iii.
Premissa 3 (oculta): A prática do aborto faz com
que filhos não desejados não nasçam.
iv.
Conclusão: Logo, a legalização do aborto diminui a
criminalidade.
8. Bem
aventurado é aquele que nada espera, pois nunca será decepcionado.
i.
Premissa 1: Aquele que nada espera nunca será
decepcionado.
ii.
Premissa 2 (oculta): Aquele que nunca é
decepcionado é bem aventurado.
iii.
Conclusão: Logo, bem aventurado é aquele que nada
espera.
II.
No argumento abaixo: (i) identifique as premissas e
a conclusão; (ii) coloque o argumento em forma canônica; (iii) diga se o
argumento é válido ou inválido.
1.
É verdade que alguns políticos usam argumentos
falaciosos. Ora, somente os bons oradores são políticos, e alguns bons oradores
usam argumentos falaciosos.
i.
Premissa 1: Somente os bons oradores são políticos.
[Todos os políticos são bons oradores]
ii.
Premissa 2: Alguns bons oradores usam argumentos
falaciosos.
iii.
Conclusão: Logo, alguns políticos usam argumentos
falaciosos.
Argumento
inválido: é possível que os bons oradores que usam argumentos falaciosos não
sejam políticos.
III.
Quais das seguintes
sentenças expressam uma proposição (têm valor de verdade)? Justifique.
1. Existe
vida em outras galáxias.
i.
Proposição (embora não saibamos se é verdadeira ou
falsa)
2. 2 + 2
= 5.
i.
Proposição (com valor de verdade: falsa)
3. O
vinho é um metal raro.
i.
Não chega a ser uma sentença declarativa por
descumprimento de regras semânticas. [ou seria uma proposição (com valor de
verdade: falsa)]
4. 2 + 2
= 4.
i.
Proposição (com valor de verdade: verdadeira)
5. Silêncio!
i.
Sentença imperativa: não expressa nenhuma
proposição (sem valor de verdade)
6. O
atual presidente do Brasil é do PT.
i.
Proposição (com valor de verdade: verdadeira)
7. Alguém
pode me dizer as horas?
i.
Sentença interrogativa: não expressa nenhuma
proposição (sem valor de verdade)
8. O
primeiro europeu a pisar no continente americano não foi Colombo.
i.
Proposição (com valor de verdade: falsa) [talvez
seja verdadeira...]
9. A
China é um país distante.
i.
Proposição (com valor de verdade contextual: é
verdadeira ou falsa dependendo do local de enunciação).
10. Lisboa
não é a capital de Portugal.
i.
Proposição (com valor de verdade: falsa)
11. Eu
moro no Rio de Janeiro.
i.
Proposição (com valor de verdade contextual: é
verdadeira ou falsa dependendo do sujeito da enunciação).
12. Jorge,
o duende verde, gosta de Coca-cola bem passada.
i.
Não chega a ser uma sentença declarativa por
descumprimento de regras semânticas (além do problema do termo sem referente).
[ou seria uma proposição (com valor de verdade: falsa)]
13. Prometo
que te devolvo o livro amanhã.
i.
Sentença promissiva: não expressa nenhuma
proposição (sem valor de verdade)
14. Quem
me dera passar em lógica!
i.
Sentença exclamativa: não expressa nenhuma
proposição (sem valor de verdade)
IV. Responda às seguintes questões:
1. O que
é o valor de verdade de uma sentença? Quais são os valores de verdade que uma
sentença pode ter?
i.
Uma sentença afirmativa ou asserção possui valor de
verdade quando é bem construída, quando tem sentido, ou seja, quando expressa
uma proposição. Ela pode ser ou verdadeira, ou falsa. O fato de possuir valor
de verdade (de ser verdadeira ou falsa) não significa que sabemos se uma
determinada proposição é verdadeira ou falsa (isso é um problema
epistemológico).
2. Dê
dois exemplos de sentenças que NÃO tenham valor de verdade.
i.
Basta dar exemplo de sentenças bem construídas não
afirmativas (interrogativas, imperativas, exclamativas...).
3. É
possível que duas sentenças diferentes tenham o mesmo significado? Se a
resposta for afirmativa, exemplifique; se for negativa, justifique.
i.
Sim, é possível, pois sentenças distintas podem
expressar a mesma proposição (possuindo o mesmo sentido). Ex: ‘A neve é
branca’, ‘La neige est blanche’, ‘É branca a neve’, etc.
4. "Uma
sentença que não tem valor de verdade não tem significado". Você concorda?
Justifique sua resposta.
i.
Não, isso é verdade apenas para as sentenças
afirmativas ou asserções. As demais sentenças têm sentido, embora não possuam
valor de verdade.
5. O que é
uma sentença vaga? Dê exemplos.
i.
Uma
sentença vaga é aquela que dá origem a casos de fronteira indecidíveis.
Exemplo: ‘Sócrates era calvo’.
6. O que
é uma sentença ambígua? Dê exemplos.
i.
Uma sentença ambígua é aquela que expressa mais de
uma proposição. Exemplo:
‘José está no banco’.
7.
Será que
um argumento válido pode ter uma conclusão falsa? Justifique e exemplifique.
i.
Sim. Um argumento dedutivo pode ser
válido apesar de ter premissas e conclusão falsas; e pode ser inválido apesar
de ter premissas e conclusão verdadeiras. Isto acontece porque a validade é uma
propriedade da conexão entre as premissas e conclusões, e não uma propriedade
das próprias premissas e conclusões. Ex: Sócrates e Aristóteles eram
egípcios.Logo, Sócrates era egípcio.
8.
Dê um
exemplo de um argumento inválido com premissas e conclusão verdadeiras.
i.
Sócrates
era um filósofo. Logo, Kant era alemão.
9.
Todo argumento válido é sólido ou correto?
Exemplifique sua resposta.
i.
Não, o argumento pode ser válido, mas partir de
premissas falsas (senso assim incorreto).
10. Todo
argumento dedutivo é formal? Exemplifique sua resposta.
i.
Não, os argumentos conceituais ou semânticos são
dedutivos, mas informais.
11. O que
é um argumento indutivamente forte? E o que é um argumento dedutivamente
válido? Justifique e exemplifique.
i.
O argumento indutivamente forte apresenta grande
probalidade de a conclusão ser verdadeira. Já o argumento dedutivamente válido
é conclusivo, ou seja, se as premissas forem verdadeiras, a conclusão
necessariamente será.
12. "Um
bom argumento dedutivo é aquele em que se as premissas forem verdadeiras, a
conclusão é altamente provável". Você concorda? Justifique sua resposta.
i.
Não. O argumento dedutivo válido é conclusivo (se
as premissas forem verdadeiras, a conclusão necessariamente será – não se trata
de mera probabilidade)
13. A
inclusão de novas premissas, mesmo sem falsificar nenhuma premissa anterior,
pode tornar mais fraco um argumento indutivo forte? Justique e exemplifique.
i.
Sim, pois argumentos indutivos são não-monotônicos
(novas informações podem enfraquecer a probilidade de a conclusão ser
verdadeira).
14. É
correto dizer que argumentos dedutivos partem do geral para o particular e os
indutivos do particular para o geral? Justique e exemplifique.
i.
Não, essa distinção não é correta. Embora ocorra em
muitos casos, há diversos contra-exemplos a esssa regra.
V.
Distinguir, entre os
argumentos abaixo, os dedutivos dos não dedutivos. Além disso, posicione-se
diante do argumento, dizendo, acerca dos argumentos dedutivos, se são válidos
ou não, e, dos não-dedutivos, se os considera fortes ou fracos.
1.
Nenhum mamífero é invertebrado. Posto que gatos são
mamíferos, gatos são vertebrados.
i.
Argumento dedutivo, válido e sólido.
2.
A grande maioria dos entrevistados declarou que não
votará no candidato da oposição. Logo, a oposição não vai ganhar as eleições.
i.
Argumento indutivo e forte (dependendo da
representatividade da pesquisa).
3.
João é solteiro. Logo, João não é casado.
i.
Argumento dedutivo e informalmente válido
(conceitual ou semântico).
4.
Há fumaça saindo do supermercado e vários carros do
Corpo de Bombeiros indo naquela direção. Podemos concluir, portanto, que há um
incêndio no supermercado.
i.
Argumento indutivo e forte.
5.
Todos os miriápodes são marcianos. Todos os
narápodes são miriápodes. Logo, todos os narápodes são marcianos.
i.
Argumento dedutivo válido, independentemente do
significado desses termos.
6.
Os
grandes criadores musicais permitem certas dissonâncias nas suas sinfonias com
a finalidade de realçar as partes harmoniosas. Ora, o mundo é como uma
sinfonia. Daí que o criador do mundo permita a existência do mal com a
finalidade de realçar o bem.
i.
Argumento
indutivo, inválido formalmente (analogia), e também informalmente fraco, ou de
pouca intensidade (pois a analogia é forte quando as semelhanças apontadas são
em bom número e relevantes para a conclusão que se quer chegar). Apensar disso,
o argumento guarda certa força persuasiva (e pode servir para converter o
imaginário, como uma metáfora).
7.
Impedir
alguém que não é cristão de fazer aborto em nome da santidade da vida é como
impedir os cristãos de comer carne de vaca em nome da divindade das vacas para
os hindus. Ora, é errado impedir os católicos de comer carne de vaca porque os
hindus consideram que as vacas são sagradas. Logo, é errado impedir os que não
são cristãos de fazer aborto em nome da santidade da vida.
i.
Argumento
indutivo, inválido formalmente (analogia) e razoavelmente forte informalmente.
Muitos discordarão da conclusão por não concordarem com a comparação entre
santidade da vida humana (valor cristão) e a divindade das vacas (valor hindu).
8.
Este paciente deve ter AIDS, não apenas porque
apresenta alguns sintomas da doença, mas também porque admitiu que teve
relações sexuais com uma pessoa contaminada.
i.
Argumento indutivo e forte (pois a probalidade é
aparentemente alta).
9.
Nenhuma
pessoa até hoje viveu mais de 150 anos. Logo nenhuma pessoa vive mais de 150
anos.
i.
Argumento
indutivo (generalização), razoavelmente forte ou persuasivo (pois conta com uma
base extremente representativa e nenhum contra-exemplo).
10. Todos os espanhóis são toureiros. Plácido Domingo é
espanhol. Logo, Plácido Domingo é toureiro.
i.
Argumento
dedutivo e formalmente válido, mas pouco convincente ou fraco, pois parte de
uma premissa claramente falsa (o argumento é evidentemente incorreto ou não
sólido).
11. Todos os portugueses são latinos. Luís Figo é
latino, portanto Luís Figo é português.
i.
Argumento
dedutivo inválido e claramente fraco (falácia da afirmação do conseqüente).
12. Bill Gates afirma que dentro de cinco anos os
aparelhos de televisão irão passar a ter as mesmas funções que os computadores
atuais. Logo, dentro de cinco anos os aparelhos de televisão passarão a ter as
mesmas funções que os computadores atuais.
i.
Argumento
indutivo, formalmente inválido, mas razoavelmente forte, ad verecundiam ou de autoridade (é em grande parte convincente pelo
fato de Bill Gates ser um especialista em tencologia e mercado de informática).
13. Ou bem
uma obra é religiosa, ou bem é científica, sendo que é impossível que uma obra
seja simultaneamente religiosa e científica. A Bíblia é uma obra religiosa.
Logo, não é uma obra científica.
i.
Argumento dedutivo e válido.
14. ABC é um
triângulo equilátero. Logo, cada um dos seus ângulos internos tem 60 graus.
i.
Argumento dedutivo e informalmente válido
(conceitual ou semântico).