quarta-feira, 13 de julho de 2016

A ARTE, A MORAL E A SOCIEDADE



A ARTE, A MORAL E A SOCIEDADE
Há quem considere que a arte exerce uma influência de tal modo profunda sobre os seres humanos que não é possível avaliá-la em termos simplesmente artísticos. Se as obras de arte não despertam simplesmente sentimentos estéticos mas também morais, religiosos ou políticos, diz-se que é necessário avaliá-laem termos puramente artísticos. Admitem certos moralistas ontem e hoje que a "nobre missão da arte", o seu fim intrínseco é a expressão da beleza. Contudonegam que isso implique que o artista seja livre perante as leis morais, que possa pintar ou descrever
o vício e tudo o que é inferior na natureza humana. Como é evidente, a questão não é pacífica. Os textos que em seguida apresentamos ilustram esse conflito e é para a tomada de posição pessoal que o/a convidamos.
1
«A obra literária tem necessariamente de exercer uma acção no espírito de quem lê. Mas se essa acção é imoral, destruirá fatalmente emoção estética. Portanto uma obra imoral, na medidaem que for, deixará de ser artística
(Paulo Durão AlvesA Arte e a Moral, Brotéria, 1927p. 42.)
2
«Uma arte que abusa da vida emocional, levando-a extremos irreflectidos, não poderá ser boa arte, já que produzirá desequilíbrio moral do homem através da cegueira da inteligência para contemplar obem e a beleza e a debilidade da vontade para resistir ao mal. Se na ordem ontológica verdade e a bondade impõem as suas condições à beleza, na ordem psicológica, subjectiva, prazer estéticonecessariamente deve ser regulado pela luz da inteligência pelas normas objectivas do viver do pensar ordenados
(Alfredo Panizo«Arte e a Moral», Revista de Filosofia, 1959,Madridp. 326.)
3
«Não há livros morais nem imorais. Os livros são bem ou mal escritos. Nada mais. [. ..} vida moral do Homem faz parte do assunto do artista, mas moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista deseja provar que quer que seja. Até ascoisas verdadeiras se podem provar.
Nenhum artista tem simpatias éticas. Uma simpatia ética num artista éum imperdoável maneirismo de estilo [. ..] vício e a virtude são para oartista materiais de arte. Pode-se perdoar um homem fazer uma coisa útil, enquanto ele não admira. única desculpa que merece quem faz uma coisa inútil é admirá-Ia intensamente. Toda arte éabsolutamente inútil
(Oscar WildePrólogo de Retrato de Dorian Gray)
4
«O artista exprime precisamente que sente, não que alguém lhe ordena que sinta. É por isso que os esforços que os moralistas ecertos homens de acção despendem para sanear arte moderna seencontram fatalmente votados ao fracasso, menos que primeiro setenha saneado realidade proporcionado, assim, aos artistas um outro sentimento da vida. Por meio de ordens, pode-se impedir arte de existir, que não chega é fazê--Ia viver na mentira segundo uma lógica que não é sua.
(J. Emile Muller, A Arte ModernaColPerspectivaspp67-68.)
5
«As obras de Arte mais completas podem ser, mesmo, aquelas emque mais complexamente se agitam todas as preocupações de que ohomem é vítima. E a paixão política, paixão religiosa, como paixão por uma ideia ou por um ser humano - podem inspirar grandes puras obras de Arte. Mas... entendamo-nos: que então inspira obra de Arte - é paixão; uma paixão considerada infamante ou uma paixão considerada nobre - podem da mesma forma inspirar obras elevadassob ponto de vista que nos interessa: estético. ideal do Artista nada tem com do moralista, do patriota, do crente ou do cidadão: quando sejam profundos e quando se tenham moldado de uma certa individualidade, tanto que se chama vício como que se chama uma virtude podem igualmente ser poderosos agentes da criação artística: podem ser elementos de vida de uma obra. Não sei se deveria ser assim - mas é assim. Consulte quem quiser história da literatura de qualquer povo.»
(José Régio.) 

Fonte: http://lrsr1.blogspot.com.br/search/label/A%20FILOSOFIA%20DA%20ARTE