domingo, 5 de novembro de 2017

Exercícios de Falácias III

  1. Identifique as falácias cometidas e justifique a sua resposta.

 EXEMPLO: “Sou contra a pena de morte porque ela tira a vida a uma pessoa”. É a falácia da petição de princípio porque recorre-se ao que se quer provar para provar o que está em questão. A conclusão “sou contra a pena de morte” e a premissa “a pena de morte tira a vida a uma pessoa” expressam a mesma proposição, embora por intermédio de frases diferentes.


a) A nudez pública é imoral porque é uma ofensa evidente.

b) Se começares a jogar no bingo, vais tornar-te viciado no jogo. Se te tornares viciado no bingo, vais gastar todo o teu dinheiro. Se gastares gastares todo o teu dinheiro no jogo, vais ter de roubar para pagar as tuas despesas. Logo, se começares a jogar no bingo, vais ter de roubar para pagar as tuas despesas.


c) Ou continuo a fumar ou engordo. Não quero engordar. Logo, não posso deixar de fumar.


d) Defendes que as touradas devem acabar porque não passas de um intelectual suburbano desligado da vida rural. Logo, as touradas não devem acabar.


e) Nenhum dos meus netos gosta de Matemática. Creio que na próxima geração não teremos cientistas.

f) A pena de morte está errada porque não há o direito de tirar a vida a ninguém.

g) A pena de morte justifica-se para os crimes como o assassínio e o rapto, porque é legítimo e apropriado que alguém seja condenado à morte por cometer actos tão repugnantes e desumanos.


h) "Com estas leis sobre o controlo de armas querem tirar-nos as nossas armas de defesa. É o que querem agora? Mas e depois o que não irão querer tirar-nos? Em breve, serão as armas de caça e as facas de mato e sabe-se lá mais o quê! Em breve teremos um Estado policial em que só o governo opressor possuirá armas. Se lhes damos um dedo, em breve quererão todo o braço. Em conclusão, ficarmos sem as nossas armas é nada mais, nada menos do que deixarmos de ser livres."


i) Ninguém provou que Deus existe. Logo, Deus não existe.

j) Toda a gente sabe que a Terra é plana. Então por que razão insistes nas tuas excêntricas teorias?


l) As sondagens sugerem que os liberais vão ter a maioria no parlamento, também deves votar neles. m) Esperamos que aceite as nossas recomendações. Passamos os últimos três meses a trabalhar desalmadamente nesse relatório.

n) Perguntei a quatro dos meus amigos o que eles pensavam das novas restrições ao consumo e eles concordaram em que se trata de uma boa ideia. Portanto as novas restrições são populares.


Correção

1 a) Falácia da petição de princípio (petitio principii) porque recorre-se ao que se quer provar para provar o que está em questão. A conclusão “nudez pública é imoral” e a premissa “a nudez pública é uma ofensa evidente” expressam a mesma proposição, embora por intermédio de frases diferentes..

b) Falácia da Derrapagem ou Bola de Neve porque a conclusão resulta de uma série de consequências cujo encadeamento é muito improvável, pois põe quem começa a jogar bingo a roubar.

c) Falácia da Falsa Dicotomia porque é dado um número muito limitado de opções, ou seja, põem-se as coisas em termos de fumar ou engordar, quando há outras alternativas, nomeadamente a de “fazer exercício físico”.

d) Argumento contra o homem (ad hominem) porque ataca-se a pessoa que apresentou o argumento, neste caso a sua condição social ou as suas motivações para defender uma determinada ideia (as touradas devem acabar ) , em vez de atacar o argumento.

e) Generalização precipitada porque baseada num número muito limitado de casos (netos de uma pessoa). Que os netos de uma pessoa (particular) não gostem de matemática não implica que a geração a que pertencem não se interesse pela matemática e pelas ciências (universal).

f) Petição de princípio (petitio principii) porque se considerada provado o que se quer provar, ou seja, estabelecer a pena de morte significa que se reconhece o direito legal de tirar a vida a alguém. Portanto, argumentar "Não há direito de tirar a vida a ninguém" é provar a conclusão tendo como premissa essa mesma conclusão

g) A premissa e a conclusão dizem o mesmo por palavras diferentes. Com efeito, dizer que a pena de morte é "justificável" tem o mesmo sentido que dizer que é "legítimo e apropriado" aplicá-la. Trata-se de uma "petição de princípio". Aqui, assume-se a conclusão que se pretende demonstrar, enunciando-a sob forma subtilmente diferente na premissa.

h) Falácia da derrapagem porque a conclusão resulta de uma série de consequências cujo encadeamento é muito improvável, isto é, para se mostrar que uma proposição é inaceitável, extrai-se uma série de consequências inaceitáveis da proposição em questão.. É evidente que as leis sobre o controlo de armas não visam acabar com a caça nem instaurar um Estado policial que atrofie a liberdade dos cidadãos. Há uma grande diferença entre controlar a proliferação de armas e oprimir os cidadãos. Quem argumenta que a situação deslizará inevitavelmente para esse extremo está a ser falacioso, como se não houvesse meio-termo. Se seguíssemos a lógica deste pseudo-argumento, quem bebe um copo não parará no segundo e embebedar-se-á; quem come uma batata frita comerá todo o pacote; quem comece a fumar será sempre um fumador. Ora, na maior parte dos casos, paramos a meio do "declive ardiloso", não descemos a encosta na sua totalidade.

i) Apelo à ignorância (argumentum ad ignorantiam) porque argumenta-se que uma proposição é falsa (Deus não existe) porque não foi provado que é verdadeira (Deus existe).


j) Falácia do Apelo ao povo (argumentum ad populum). Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira (a Terra é plana) por ser aceite como verdadeira por algum sector representativo da população (toda a gente).

l) Apelo ao povo (argumentum ad populum). Com esta falácia sustenta-se que uma proposição é verdadeira (liberais vão vencer) por ser aceite como verdadeira por algum sector representativo da população (a maioria da população).


m) Apelo à piedade (argumentum ad misercordiam) porque pede-se a aprovação do auditório na base do estado lastimoso dos autores que passaram os últimos três meses a trabalhar desalmadamente nesse relatório, ou seja, em vez de se apelar à razão, apela-se aos sentimentos de piedade e de compaixão.



n) Generalização Precipitada porque a amostra (quatro amigos) é demasiado limitada e é usada apenas para apoiar uma conclusão tendenciosa.